CONSULTORIA PODOLÓGICA COM O HIPÓLOGO PROFESSOR PAULO GUILHON

 

Consultoria Podológica

Seguem considerações decorrentes da avaliação podológica solicitada.

Dois aspectos principais configuram as possibilidades de estabelecimento das condições desejáveis aos cascos dos equídeos:

1)      boa constituição da matéria córnea;

2)      metabolismo de crescimento (dos cascos) normal.

Afortunadamente o cavalo em análise parece apresentar ambos. A aparência dos cascos e as características reveladas pelas imagens da ‘faixa coronária’ (coroa do casco), são indicadores concretos desse parecer. Em outras palavras, se os cascos são bem constituídos, em termos da qualidade da matéria córnea, e têm crescimento normal,torna-se relativamente fácil conduzi-los às condições que os levem ao desempenho de suas funções: dar sustentação e favorecer a locomoção do animal, obviamente, desde que as intervenções podológicas contribuam nesse sentido.

Valem os seguintes comentários:

·         algumas raças de equídeos trazem em sua bagagem genética informações que resultam em deficiências relativas aos aspectos inicialmente mencionados (1 e 2);

·         as intervenções podológicas (casqueamentos e ferrageamentos) realizadas sem os devidos critérios, acarretam sérios prejuízos ao sistema de sustentação e locomoção dos equídeos.

As irregularidades identificadas nos cascos exibidos nas fotos enviadas são reversíveis. Para efetivação dessa reversão são necessários conhecimentos e procedimentos compatíveis ao propósito almejado.

Cascos são mais do que unhas, eles são estojos córneos incumbidos de alojar a terceira falange e realizar funções importantes tanto na sustentação, quanto na locomoção do equídeo. Alguns tendões e ligamentos fazem sua inserção final no sistema digital. O tendão flexor profundo, por exemplo, fica inserido na base da terceira falange, logo após ter passado atrás do navicular (osso sesamóideo maior), ou seja, dentro do estojo córneo.

Para realizar com eficiência as funções de sustentação esse estojo córneo, chamado casco, requer condições anatômicas e estruturais que o permitam desempenhá-las.

Para as funções de locomoção, além das condições acima citadas, ele deve estar devidamente balanceado, nos sentidos antero-posterior e médio-lateral, pois os balanceamentos (ou a ausência deles) terão influência relevante na qualidade da locomoção.

As condições anatômicas e estruturais, assim como os balanceamentos dos cascos em questão, não atendem as necessidades de sustentação e locomoção.

O primeiro passo é a ‘reconstrução’ do estojo córneo. A reconstrução requer o conhecimento do modelo ideal para que possamos adotá-lo como referência. No livro “Capacitação de Cavalariços – Escola Preparatória” é possível encontrar imagens de cascos com condições estruturais recomendáveis.

O processo de reconstrução, se conduzido por alguém capacitado, leva em torno de 18 meses para ocorrer.

Os problemas observados com mais frequência, inclusive no caso em questão, são:

Altura da muralha insuficiente (casco raso). Este problema acarreta consequências muito danosas tanto à sustentação, quanto à locomoção, entre elas: ausência de amortecimento, por incapacidade de expansão da muralha durante os momentos de apoio (quando o peso recai sobre o casco); falta de concavidade da sola (a concavidade é formada como consequência do balanceamento antero-posterior e aumento da altura da muralha). Sem concavidade os movimentos de expansão ficam impedidos; rebaixamento e exposição dos bulbos (áreas com irrigação sanguínea, portanto, sensíveis) ao contato com o solo; para receber o peso advindo do corpo do animal o casco deve estar apto a suportá-lo, para tal o volume de matéria córnea que compõe o estojo córneo precisa ser proporcional ao esforço requerido (cascos pequenos e desprovidos de suas estruturas funcionais em condições ideais não podem realizar adequadamente as funções deles esperadas); entre outros.

Desbalanceamentos dos eixos antero-posterior e médio lateral. Essas irregularidades afetam a sustentação por má distribuição do peso do animal sobre os estojos córneos, e também a locomoção, devido à alteração do voo dos cascos.

A dificuldade para o restabelecimento dessas condições reside no fato delas exigirem procedimentos contraditórios, quando a intervenção é promovida por meio do casqueamento. Explicação: para aumentar a altura da muralha o crescimento deve ser superior ao desgaste, ou seja, precisamos evitar a retirada de material durante as intervenções. Para promover os balanceamentos a retirada de material é indispensável.

Então como equacionar a questão...?

Este é o desafio que tenho enfrentado há mais de quatro décadas.

O primeiro passo é identificar e monitorar todas as variáveis que possam atuar de modo a desgastar os cascos. Pisos abrasivos e locomoção contínua são duas variáveis invariavelmente presentes na maior parte dos casos. Animais que precisam se locomover continuamente sob as ações abrasivas de certos tipos de pisos ou solos, sofrem maior desgaste dos cascos (animal em locomoção = casco em desgaste).

 Dica: períodos estacionários em cocheiras (pelo menos 6h/dia) com pisos não abrasivos favorecem o crescimento do casco.

A outra variável a ser eliminada o mais rápido possível é a intervenção indevida por parte do operador. As retiradas excessivas de material com o uso de grosa e ou torquês têm sido o fator preponderante a impedir o crescimento satisfatório da muralha córnea. Educar os operadores no uso adequado das ferramentas podológicas é tarefa árdua, por vezes, exaustiva...

Outra alternativa seria utilizar o ferrageamento como modo de evitar os desgastes dos cascos e promover os balanceamentos com adição de talonetes ao invés da retirada de material (balanceamento por adição e não por subtração), todavia a operação, para ser considerada benéfica, demanda conhecimentos bem mais aprofundados, por parte do operador, do que o casqueamento. Durante o período de uso das ferraduras os cascos crescem sem a inconveniência dos desgastes, porém o cravejamento pode causar prejuízos maiores no caso dos cascos não apresentarem condições satisfatórias para o recebimento das ferraduras. A formação de galerias pela ação de bactérias anaeróbicas entre as lâminas córnea e sensível e o rompimento da muralha pela ação dos cravos são consequências previsíveis, sempre que a ‘taipa’ não apresentar a espessura recomendada para a fixação dos mesmos. Esses seriam exemplos dos males decorrentes da situação descrita.

As fotos, sobretudo aquelas que ilustram a visão posterior dos cascos, tanto apoiados ao chão, quanto em posição invertida, seguros pelo operador para avaliação do balanceamento médio-lateral, evidenciam insuficiências na estrutura denominada muralha córnea. Ela é praticamente inexistente em termos de altura. Os calcanhares (altura dos talões) são desprezíveis, expondo os bulbos ao contato direto com o solo. Façamos uma ilustração comparativa: se o animal em avaliação fosse um automóvel ele estaria rodando no aro por ausência dos pneus. Situação crítica e prejudicial à sustentação, locomoção, equilíbrio e dinâmicas posturais do indivíduo.

Essa ausência estrutural atua como causa de uma série de ‘reações adversas’, as quais, por sua vez, provocarão desvios (irregularidades) de aprumos, como já é notório nos membros posteriores do animal . O próprio estojo córneo revela essa condição indesejável ao ser anatomicamente estudado. Em vista frontal os cascos podem ser divididos em duas metades. Essas metades deveriam ter o mesmo aspecto anatômico, o que não acontece neste caso. Uma metade tem aparência côncava e a outra convexa. Isso acontece porque a terceira falange está ocupando irregularmente o espaço interno do estojo córneo, devido ao desbalanceamento médio-lateral. Mas é importante notar que a causa do desbalanceamento pode ter sido outra: a falta de estrutura do casco para o recebimento do peso do cavalo. Não resistindo ao peso, a tendência natural é que ocorram deformações decorrentes do modo de distribuição do peso, este último, relacionado com o restante da estrutura corpórea do cavalo e suas dinâmicas de equilíbrio.

As técnicas interventivas (biopodologia prática) para serem transmitidas, requerem condições, tempo, além de exercícios frequentes. Podemos realizar um ‘Curso de Biopodologia Aplicada’, tenho muito interesse neste trabalho. Precisamos apenas reunir alunos (pelo menos 5) que se interessem em receber as informações e conhecimentos, e praticá-las.

Paulo Guilhon.

Hipólogo / escritor

pguilhoncavalos@yahoo.com.br

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